Mais de três anos se passaram da última vez que escrevi neste blogue (ainda está alguém desse lado?). A vida foi acontecendo, o blogue já estava moribundo, o tempo escasseava, então, aos poucos, deixei acumular as receitas, deixei de tirar fotos ao que cozinhava, até que deixei de publicar. De vez em quando pensava no blogue com carinho, principalmente quando recebia algum email ou comentário desse lado ou quando cozinhava algo que me sabia mesmo bem. Pensava algumas vezes em voltar, mas foram três anos loucos, cheios de mudanças, cheios de trabalho.
Então, o que me deu hoje para voltar a escrever aqui?
Agora acalmei. Da minha vida de 2016 pouco resta, e ainda bem. Por detrás deste ecrã, não estava uma pessoa lá muito feliz. E receitas cozinhadas no meio de angustias e lágrimas acabam por fazer mal ao fígado, não é verdade? Arranjei um trabalho, depois outro, depois outros. Pelo meio fiz o meu estágio profissional que consegui manter à custa dos outros trabalhos e de repente, depressa demais, já estava a dar consultas sozinha. Mudei de casa, terminei o meu relacionamento da altura. Mudei de casa novamente, encontrei o amor da minha vida. Fui despedida de um trabalho que sempre odiei, e acabou por ser uma das melhores coisas que me podiam ter acontecido. Juntei-me com o meu namorado. Mudei de casa novamente. O meu namorado foi despedido e de repente éramos dois sem emprego e com uma casa para sustentar. Os meus familiares mudaram-se, alguns para milhares de quilómetros longe de mim, e fiquei sozinha na minha cidade que cada vez tem mais gente. A minha irmã passou pelo período mais difícil da vida dela e eu achei que aquele ano não iria terminar nunca.
E, depois, tudo começou a melhorar.
Apareceu-me uma oportunidade e comecei a trabalhar exclusivamente na minha área. Passei a ter dias de folga e dormir 8h por dia. Comecei a pós graduação. Fui pedida em casamento. Tirei duas semanas de férias e fui ver o meu pai. A minha mãe voltou, a minha irmã engravidou. Passei para um trabalho a contrato, na minha área. De repente, já não me lembrava da última vez que tinha chorado de tristeza. Mas ainda faltava alguma coisa.
Decidi fazer o chão tremer. Acordava e adormecia com a mesma pergunta na cabeça "Estou a ir para onde quero estar?". Alterei as condições do meu trabalho, troquei o certo pelo incerto e o estável pelo instável. Comprei um carro maior, um carro onde coubessem os meus sonhos, mesmo sem certezas de algum dia os concretizar. Fui tratar da minha saúde. Comecei a trabalhar para o futuro, mas desta vez sem medo do futuro. Comprei uma casa. Gastei quase a totalidade das poupanças para o casamento a torná-la minha, a torná-la nossa. E hoje, ao voltar do IKEA para uma casa de pantanas, ainda com metade das nossas coisas em caixotes (mas, finalmente, com todos os meus livros perto de mim), suados, cansados, de pés inchados, sem gás ainda para um banho de água quente, cheia de medo do futuro misturado com entusiasmo, percebi: finalmente, não falta nada.
Então sentei-me a escrever no blogue.